quarta-feira, 9 de abril de 2008

O mundo em miniatura.



Quase todas as semanas por lá passo. Passo... não quer dizer que entre. (Não me julguem um qualquer “doidivanas”) Tanto mais que o dinheiro não abunda e como tal é um pretexto mais que suficiente para não o frequentar assiduamente (como, confesso... gostaria).
É um bar? Um museu? O Pavilhão Chinês, em Lisboa, acolhe dezenas de turistas todas as noites.
Deixo-vos uma pequena crónica de Luis Garcia e Marina Ribeiro para vos despertar a curiosidade de pelo menos lá irem uma vez...

Quem lá entra pela primeira vez dificilmente consegue disfarçar o deslumbramento. Fernando e Paola Gonzalez, 36 e 34 anos, vieram de Madrid e estão a passar o fim-de-semana em Lisboa. Descobriram o bar ao passar na rua e não parecem arrependidos: “Este sítio encanta-nos, nunca vimos nada igual”, diz a espanhola.
Ao som da campainha, um empregado impecavelmente vestido com calças pretas de vinco, colete e laço vermelhos por cima da camisa branca, abre a porta ao cliente e acompanha-o até às mesas. Aí, reina a diversidade. Grupos de turistas riem e conversam animadamente enquanto bebem um “Porto”, jovens experimentam os cocktails da casa nas pausas do jogo de bilhar, casais conversam calmamente de chávena de chá na mão.
Predomina gente da classe média-alta entre os 25 e os 35 anos, mas há clientes de várias idades e classes sociais. Portugueses e estrangeiros misturam-se numa proporção equilibrada. Por cima da música ambiente variada – techno, R&B, jazz – ouve-se falar espanhol, alemão e inglês. António Pinto, 50 anos, gerente do Pavilhão Chinês diz que “o bar é muito frequentado por estrangeiros. Neste momento de crise eles têm sido a nossa salvação”.
No meio da variedade existe um ponto em comum: sempre que uma conversa esmorece e o olhar se desvia do interlocutor, logo encontra refúgio num qualquer ponto numa parede ou no tecto. Pode ser um soldadinho de chumbo ou um capacete da Primeira Guerra Mundial, um mapa caricatural ou um aviãozinho de brincar, uma espada ou um desenho da Betty Boop. “Podemos comprar os bonecos?”, pergunta Paola Gonzalez.
São muitos milhares de peças de colecção divididas tematicamente por cinco salas decoradas pelo dono do bar, Luís Pinto Coelho. “As peças são todas pessoais. Ele começou a coleccioná-las desde os 12 ou 14 anos e quando abriu este bar resolveu pôr cá as peças todas que tinha em casa”, conta António Pinto. Entre as colecções mais valiosas estão as peças de Bordalo Pinheiro, como Zés Povinhos, peças de cerâmica variadas e bonecos articulados. António Pinto salienta que “há algumas peças que o Museu Bordalo Pinheiro não tem e outras que copiou das nossas”.
Apesar de o bar ter sido inaugurado em 18 de Fevereiro de 1986, supõe-se que o Pavilhão Chinês date de 1901. O número 89 da rua D. Pedro V, no Príncipe Real, foi no início do século XX uma mercearia onde se vendiam especiarias finas, café e chás. Em 1985, quando Luís Pinto Coelho decidiu fazer um bar naquele espaço, recuperou os armários e estuques em ruínas e manteve o nome do estabelecimento. Para reproduzir o ambiente fino da época, apostou não só numa decoração cuidada como no atendimento “à antiga”.
Estas são as grandes qualidades do bar na opinião de um grupo de 4 advogados londrinos sentado a uma mesa da sala de bilhar. “O serviço é muito bom” diz Russell Conway, 50 anos. “O bar tem muito estilo, é único, não conheço nada assim em Inglaterra. Lá há muitos bares com mesas de bilhar, mas são pubs, não têm esta classe”, observa Nicholas Mills, 26 anos, acrescentando que o grupo só teve conhecimento do bar a partir de “um amigo que viveu em Portugal” porque “não vinha no guia turístico”.
A publicidade boca-a-boca é a principal forma de promoção do Pavilhão Chinês. “A nossa publicidade é feita exclusivamente através dos cartões e postais que as pessoas levam. Depois, os próprios turistas vão passando a palavra”, diz António Pinto. Outra forma de promoção é a cobertura mediática que tem acompanhado a vida do bar desde o início. “Uma vez esteve cá um jornalista do Telegraph holandês a fazer uma reportagem e passado algum tempo apareceram aqui vários holandeses com uma folha inteira do jornal. E há cerca de quinze dias aparecemos no New York Times”, exemplifica o gerente.
Foi precisamente através da imprensa que João Pedro Santos, 30 anos, conheceu o Pavilhão Chinês: “Há dez anos, li um artigo sobre o dono do bar no Expresso e vim cá. Mas como não sou de Lisboa, só venho cá quatro vezes por ano”. Desta vez está acompanhado por Carla Moreira, de 23 anos, que está a gostar da sua estreia no bar: “É interessante e original, muito diferente dos outros. Entrou directamente para a minha lista de bares preferidos”.

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